O Rio de Janeiro continuará lindo

O Rio de Janeiro vai ser demolido inteiro.

Quando eu digo inteiro, é literalmente in-tei-ro. Só que o Rio não era apenas uma cidade grande de praia, pelo contrário. Era uma ultra-megalópole futurista cheia de viadutos e construções, com uma população gigantesca. Sua disposição, porém, era igual de Nova York, com uma ilha central e mais quatro distritos no continente. E todo mundo precisava ser evacuado.

A cidade seria reconstruída de forma ordenada e muito menos, digamos, orgânica. Foi o meio encontrado pelo governo para resolver os problemas urbanísticos da cidade e tentar criar uma cidade mais justa.

Hoje era o último dia de remoções e evacuações antes de a total implosão da cidade. Mesmo sendo o último dia, o governo resolveu implodir já algumas áreas e edificações antes da total remoção da população. O que se via e se ouvia pela janela do apartamento era um sequência de destruições e barulhos de bombas. E tudo era uma festa.

Desci à rua com um amigo para ver de perto como a cidade parcialmente demolida tinha ficado. “Eles deveriam ter colocado uma trilha sonora nos alto falantes públicos ao invés daquela voz chata mandando a gente fazer coisas”, disse-me um amigo ao lado de duas fontes com jatos d’água. “Como uma orquestra?”, perguntei. “Como uma sinfonia de Chopin”, respondeu.

Nenhuma festa está completa sem bebida. Voltei a casa de minha tia, que já tinha saído da cidade, para pegar alguma bebida em seu bar. Reconheci meu primo que há muitos anos não vejo. “Se você o contrário, nunca te reconheceria”, confessou-me. “Eu não esqueço minha família”, disse sorrindo. Entre as garrafas de destilados, só tequila. Não estava afim de celebrar com shots, mas sim com algo que pudesse degustar. Um bourbon, talvez. Procurando entre as garrafas uma família entrou no aparamento rindo e celebrando. Queriam ver se conseguiam achar algo interessante que foi deixado para trás. “Só vou pegar a minha garrafa e já vou sair”, avisei. Peguei uma garrafa de Red Label e disse para o meu primo que era melhor já sairmos da cidade.

Ao procurar os carros, reparei que os viadutos e as vias tinham trilhos, como se os carros fossem parte elétricos como trens e parte a combustível. Além disso, os veículos eram conectados em pares, sendo apenas possível trafegar com dois ao mesmo tempo, mas reduzindo o espaço consumido nas vias.

Ao entrar no viaduto que levava à saída da cidade, dava-se para ver os cemitérios de automóveis abandonados. Um verdadeiro horizonte caótico, como se tivesse ocorrido um grande desastre, se não fosse pelo clima de festa e felicidade das pessoas. No meio do trânsito, que estava muito menor do que a gente esperava, ambulantes vendendo garrafas de água por R$ 14. O engraçado é que os preços estavam escritos em chinês ou em inglês. “Será que alguém realmente compra por este valor? Estes imigrantes querem ser espertinhos”, disse rindo ao meu primo. Quando nos desvencilhamos do trânsito, uma super-rodovia com umas 10 pistas a nossa frente, com o sol no horizonte nascendo.

Sorri.

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