Nadar é preciso

Depois de anos, voltei às piscinas. Desta vez, não apenas como um aprendiz ou mero exercício aeróbico, mas sim um atleta de diversas modalidades que possuem a água como campo para suas atividades. Fazia parte de um time, de cerca de 8 participantes, que competia em um campeonato inter-clubes. Enquanto que para eles tudo era de extrema importância, para mim era apenas um hobby, algo que fazia por prazer embora que profissionalmente. Meu treinador era meu maestro em realidades outras.

Andando para ir à piscina, alguém tenta falar comigo. Eu estou rindo e me divertindo, seguindo meu treinador seríssimo, enquanto esta outra pessoa tenta me entrevistar e questionar sobre as minha táticas. Eu nem sei direito o que ela está falando, mas parece que eu sou a carta na manga do time, o atacante, o que resolve e classifica o time inteiro. Para mim, eu só vou lá e nado. Nada demais. Andando, percebo que é difícil entender o que a outra pessoa está falando. Quando vejo, estou com dois tampões de ouvido, um em cada lado, de acrílico. Retiro o esquerdo e vejo quão sujo ele está. Não é apenas cera produzida pelos meus tímpanos, mas algas, cartilagens, e outras coisas que me deixavam na dúvida se era do meu ouvido ou uma sujeira externa. De qualquer forma, me apresso a limpar antes que alguém repare, já com vergonha de toda a situação.

Meu treinador me escoltava para o vestiário de forma a garantir que eu me trocasse. Aparentemente, eu tenho a fama de chegar atrasado e não me importar muito. Mas como era uma competição séria, se eu me atrasasse não poderia participar. E ninguém queria isso. Acho.

Me troquei, corri para a piscina, o campeonato começou, participei de 5 das 8 atividades, ganhei 5 das 5 que fiz parte e bati o recorde no nado livre. Tudo bem tranquilo e sem se importar muito. Ganhar esta fase garantia que nós chegássemos na final, o que nunca tinha acontecido com o time antes. Mas ninguém comemorava como sendo uma façanha. Estavam todos muito concentrados com o que deveriam fazer e as expectativas foram trocadas por técnica e raciocínio lógico.

No dia da final, cheguei ao clube onde seria a competição e percebi que esqueci minha roupa de nado. Sem sunga, sem óculos, sem touca. Desespero. Conversei com o treinador e disse que poderia comprar uma na loja do clube. “É muito caro”, respondeu. “Quanto?”, “Uns R$ 150, R$ 200”. É, estava totalmente fora do meu orçamento gastar esta quantia com apenas uma sunga. “Não tem problema”, continuou o treinador, “eu preciso comprar uma outra sunga de qualidade e te empresto para hoje”. Resolvido. O problema: faltavam apenas 15 minutos para começar a competição e eu ainda nem tinha roupa de banho para entrar na piscina. Saí correndo em busca da loja e para achar a sunga. Não ia dar tempo. Já estava pensando em entrar de cueca mesmo e resolver o problema. Não podia, ia ser desclassificado. Quando eu cheguei na lojinha do clube, um gigantesco placar com luzes laranja, vermelha e verde marcava os pontos de cada time. Olhei o cronômetro: 3… 2… 1. Começou. Eu não poderia mais participar e meu time teve que ir à final sem mim.

Acordei.

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