Hackeando o autismo

Ao mesmo tempo que as tecnologias dão vozes às pessoas que antes não tinham, as mesmas ferramentas podem ser, também, restritivas a uma parcela da população. Teclados, mouse e monitor que só projeta carregam o pressuposto de que o usuário tem coordenação motora suficiente para articular os dedos pelas letras do teclado, movimentar uma única mão em movimentos precisos para guiar a seta do mouse e olhar para uma mesma tela durante horas com uma concentração exemplar. Quem possui alguma vertente de autismo, porém, não está tão inserido nestas condições.

As “touchscreens”, ou telas sensíveis ao toque, facilitaram muito o uso das tecnologias por portadores de necessidades especiais. Elas são mais fáceis de manipular e podem ser adaptáveis conforme a necessidade da pessoa.

Foi pensando nisso que criaram o Hacking Autism (ou hackeando o autismo, em tradução livre), uma plataforma que recebe ideias e sugestões de programas com foco nesse público e organiza hackatons (ou encontros entre desenvolvedores, designers e tecnológos) para que as sugestões deixem de ser apenas ideias e se tornem softwares reais.

Os aplicativos já desenvolvidos vão desde uma ferramenta para que o usuário consiga expressar os sentimentos (como felicidade, raiva, fome, tristeza) até outros mais simples, que apenas dão duas possibilidades de escolha (como os simples sim e não). São mecanismos para que eles consigam se expressar melhor. Nos vídeos do site do projeto, há até casos de pessoas que não conseguiam falar e passaram cerca de 15 anos sem ao menos poder demonstrar o amor à mãe. Graças a um dos aplicativos, elas podem se expressar e até cursar colégo e faculdade tradicionais, sem necessitar de auxílio especial durante as aulas.

A iniciativa já recebeu quase 500 ideias para ser votadas e analisadas pela equipe. As mais votadas e selecionadas como essenciais ou bem interessantes vão para os encontros com os desenvolvedores. A partir daí, elas viram um produto final que será testado e averiguado pelo público. Alguns são gratuitos, outros já precisam de pagamento.

De qualquer forma, já é um belo caminho para pensar que a tecnologia pode ser ainda mais inclusiva, e para dar uma boa chacoalhada na cabeça sobre se o design que estamos habituados (teclado, mouse e monitor) é tão bom assim.

4 Comments

Deixe um comentário