Reflexões sobre um país (quase) conectado


É assim: o Brasil tem uma das piores conexões de banda larga do mundo*. E não só o serviço é ruim, como é caro**. O governo até tenta democratizar o acesso reduzindo o preço***, mas talvez o foco não seja bem por aí.

Os dados podem ser vistos de diversas formas. Por exemplo, o número de pessoas com acesso à internet. São cerca de 64 milhões de brasileiros conectados à rede. Ou seja, considerando que a população do país é de 180 milhões, cerca de absurdos 116 milhões estão fora do mundo conectado. Mas também essa quantidade conectada é maior do que a população inteira da França ou do Reino Unido.

Um dos grandes responsáveis por essa conectividade do brasileiro, incluindo as classes mais baixas, não é o ambiente de trabalho, como muitos podem imaginar, mas o centros de acesso públicos (gratuitos ou não).

Em 2009, o Comitê Gestor de Internet, por meio do NIC, divulgou uma pesquisa que demonstrava que cerca de 50% dos acessos à internet no Brasil vinham de lan houses e telecentros. Esse dado, por si só, já demonstra o poder que estes locais possuem na inclusão digital do país.

(Tenho ressalvas em usar o termo “inclusão digital” ou qualquer tipo de inclusão quando pensamos em trabalhos sociais. Ao crer que se deve incluir uma parcela da população em algum tipo de serviço ou estrutura, está intrínseco que uma outra parcela deverá ser excluída, justamente para o termo fazer sentido. Mas tudo bem – só uso pois é o termo mais comum).

O trabalho de Regina Casé, que aborda de alguma maneira a apropriação das tecnologias pela periferia, demonstrou quão importantes são esses centros de acesso até para a produção cultural popular. Hoje, as lan houses são consideradas pelas legislações de alguns estados como casas de jogo, ou seja, proibidas de ficarem próximas a instituições de ensino.

O grande problema, porém, é que o modelo de negócio atual destes locais não possuem sustentação. O tempo de vida médio de uma lan house é de dois anos. E as que se mantém depois disso, só conseguem graças a outros serviços prestados, como gráficos (como xerox e impressão) ou de café (venda de bebidas e quitutes).

Concluindo: quando se pensa em acesso à internet de banda larga no Brasil, não há como ignorar a importância dos centros de acesso públicos neste processo. Agora, como ajudá-los a melhorar ainda mais os serviços prestados? Talvez, aí sim, começar a usar um outro termo que não “inclusão digital”.

* piores conexões de banda larga do mundo
** caro
*** reduzindo o preço

Imagem tirada por WikiMapa

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