Eu apaguei! Mas e daí?


No sábado, 27/03, o mundo foi convidado pela ONG WWF* a apagar a luz durante uma hora para fazer uma “demonstração simbólica pelo Planeta”, segundo o próprio site da organização. Cidades do mundo inteiro tentaram demonstrar essa preocupação com o meio ambiente mantendo as lâmpadas desligadas e realizando atividades que não precisassem de energia elétrica.

Aqui no Brasil, a Hora do Planeta foi entre 20h30 e 21h30, horário nobre para a televisão e início do declínio do rush nas ruas metropolitanas. Quando os ponteiros chegaram nas posições combinadas, apaguei todos os interruptores de casa e deixei o notebook rodando apenas com a bateria. Fui até a sacada para averiguar como estava a adesão na região em que moro, em São Paulo.

Nada. Diversos apartamentos continuavam com as luzes acessas. No twitter, rede de micro-blogging, inúmeras mensagens com a tag #fail apontando que a adesão em seus bairros também estava baixa. Mesmo assim, continuei com as luzes apagadas – e até obriguei o meu pai a fazer um sanduíche apenas a luz de velas. Fiquei sentado na sacada pensando no significado desta ação e o que isso poderia trazer de benefício para uma situação que beira a calamitosa.

Querendo ou não, este tipo de atividade pode ser considerado como “consciência fast food”, como disse Carlos Moreno no twitter. Em apenas uma hora, você demonstra uma preocupação que não existia em seus pensamentos durante as outras 8.759 horas do ano. Ou seja, a redenção à sua falta de consciência em atividades simples que, teoricamente, não alteram o seu conforto nem o seu estilo de vida.

Eu, então, fiquei no escuro olhando o que acontecia na rua nos primeiros momentos da hora. As luzes dos vizinhos continuavam acessas. No meio dos barulhos habituais da rua, crianças começaram a gritar: “Apaga a luz!”. Uma, duas, cinco, várias vezes. De repente, uma outra voz, diferente das outras, entrava no coro. Mas as luzes dos apartamentos ainda continuavam acessas.

De qualquer forma, com adesão ou não, me vi no escuro pensando sobre a iniciativa que envolvia a participação coletiva. E percebi que o problema com o engajamento das pessoas talvez não fosse a “consciência fast food”, mas sim a falta do costume em pensar no coletivo, em pensar que uma simples ação singular pode modificar algo no plural.

Quantas vezes, por exemplo, vemos pessoas no trânsito demonstrando total falta de consciência com todos os outros carros que estão ao redor? Ou ao menos com os ciclistas que tentam ferozmente ganhar espaço para trafegar? Um veículo na faixa da direita que quer virar à esquerda. Uma bicicleta sendo empurrada para calçada por finas cada vez mais perigosas. Pedestres tendo que ir para o meio da rua por causa de carros parados na faixa de pedestre. Ou até mesmo pedestres que não respeitam a faixa, se colocando em risco e a vida de outros. Isso para ficar apenas no trânsito.

Agora, o que isso tem a ver com tecnologia? As comunidades de software livre e, mais recentemente, as ferramentas interativas são grandes exemplos de como a consciência no coletivo é cada vez maior. O exemplo mais clássico é a própria Wikipedia, a enciclopédia colaborativa, em que os editores discutem exaustivamente para deixar um artigo em perfeito estado. O mesmo acontece no desenvolvimento de ferramentas ou sistemas operacionais em código aberto, em que os integrates das comunidades participam constantemente para ganhar notoriedade e espaço (meritocracia).

Como já disse, as tecnologias trazem novos paradigmas para a sociedade. Não só ferramental, mas comportamental também.

* WWF

Imagem tirada por Eduardo Loureiro

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