Qual o futuro do livro?


Os novos eletrônicos disponíveis para leituras de livros digitais (ebooks) suscitam cada vez mais o debate sobre qual será o futuro do objeto livro em nossa sociedade. Muitos dizem que ele vai acabar. Eu, porém, acredito apenas que haverá uma modificação nos hábitos tanto de leitura, quanto de feitura do fazer literário.

No começo do ano, escrevi um artigo sobre o tema para a edição extra impressa do Jornal de Debates especial para o festival de literatura que acontece em São Francisco Xavier. Coloquei alguns questionamentos e mostrei alguns dados sobre o hábito de leitura no país que publico abaixo.

A pesquisa "Retratos da Leitura no Brasil", encomendada pelo Instituto Pró-Livro e executada pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope), demonstrou o cenário e penetração do hábito de leitura entre os habitantes brasileiros. De acordo com o estudo, 55% da população se considera leitora, ou seja, leram ao menos um livro nos últimos três meses.

São, então, 77 milhões de brasileiros que se consideram não-leitores. A média no país de leitura de livros por ano é 4,7, número bem pequeno se considerada a existência aproximada de 35 milhões de livros publicados no mundo.

Os dados trazem uma ideia de que, realmente, a cultura brasileira é defasada para estimular a leitura entre os cidadãos. Os brasileiros não leem livros porque, simplesmente, não gostam de ler. Será?

Se considerarmos que os brasileiros são recordistas em tempo navegado na internet, o real problema não é o hábito da leitura, uma vez que a rede é, por si só, um amplo emaranhado de letras e textos – como já demonstra o conceito de hipertexto. Segundo pesquisa do IBOPE Nielsen Online (2009), os brasileiros passam, em média, 40h41min por mês em sítios na internet, tanto no trabalho, quanto em seus domicílios.

As editoras estão travando guerras contra conteúdo disponibilizado gratuitamente na internet, enquanto o Google, que criou o maior sistema de buscas na internet, tenta digitalizar todo o conhecimento humano.

Pensando neste cenário, qual é o futuro provável do livro?

A rede possibilita com que pares – ou até mesmo díspares – contribuam em um mesmo documento, mesmo estando a milhares de quilômetros de distância do autor original. Essa simples conectividade coloca em xeque o grande e até glamouroso status de que o fazer literário deve ser algo solitário.

Obras têm sido construídas por meio da rede e só possível graças a ela, em que diversos contribuintes se juntam para construir um conhecimento conjunto, ampliando e pluralizando o tema a ser explorado. Este espaço de discussão, por exemplo, é construído por meio de uma ferramenta em rede e colaborativa chamada wiki. O hipertexto possibilita com que obras literárias sejam construídas interligadas, complementando-se e gerando novas formas narrativas ainda não tão bem exploradas.

E até mesmo aqueles que quebram a barreira da falta de leitura e interesse pelo livro e se tornam escritores já acham novas soluções para que sua obra seja difundida. Um dos grandes empecilhos para que um escritor iniciante consiga ter sua obra lida é a distribuição. Verifica-se um custo alto para que desconhecidos da lista de best-sellers consigam espalhar suas obras pela maior quantidade de cidades do país. A distribuição, então, se torna um empecilho no fazer literário e no estímulo à leitura, já que diversas obras que poderiam ter um público leitor cativo não encontram com seus consumidores finais.

Hoje, há algumas iniciativas que se espelham em projetos internacionais para sanar este problema. O brasileiro Clube de Autores é um deles, que possibilita com que qualquer um publique uma obra e o imprima sob demanda. Em outras palavras, o leitor escolhe a obra que quer ler, pede para imprimir e recebe uma cópia em casa, o que possibilita com que as editoras deixem de imprimir quantidades absurdas com a grande dúvida se tudo será vendido ou não.

Os eletrônicos Kindle e iPad também facilitaram para ler texto publicados apenas na versão digital, já que é muito mais cômodo ler nos portáteis do que no próprio notebook ou computador pessoal.

A rede trouxe novas possibilidades para a leitura e feitura da literatura. Não é a substituição de uma mídia (o livro), mas a complementação e construção de novas possibilidades.

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