Imprima um novo coração


Para quem gosta de tecnologia, é instigante ver os avanços e os prováveis usos que as invenções poderão provocar em um futuro breve. E quanto mais se vê o que é criado, mais questionamentos surgem sobre o que é ser humano. Parece papo de ficção científica discutir até onde a tecnologia pode chegar, mas estamos cada vez mais presentes nesse futuro que foi imaginado no passado.

Não ache que é besteira e algo completamente sobrenatural pensar que, em breve, teremos partes mecânicas em nossos corpos. Aliás, isso já acontece, como as próteses para pessoas com necessidades especiais cada vez mais tecnológicas e avançadas.

Na semana passada, o Itaú Cultural sediou o simpósio da exposição Emoção Art.Ficial 5.0, fechando a trilogia iniciada em 2006 com questionamentos sobre a cibernética. Entre os palestrantes estavam Jon McCormack, que discute processos evolutivos, e Stelarc, um artista performático que questiona a arquitetura do corpo humano. Para assisti-las, clique aqui.

O que me chamou a atenção dessas duas palestras – e que vale comentar aqui – é como não conseguiremos mais fugir das invenções tecnológicas como complemento de nosso corpo. Os trabalhos de McCormack são surpreendentes ao mostrar como se pode criar ecossistemas inteiros usando apenas linguagem programacional, como o seu trabalho Eden, em que bolinhas azuis lutam para sobreviver e aprendem a como viver em harmonia em seu ecossistema. Para se ter uma ideia da inteligência do projeto, as bolinhas eram alimentadas pela presença do público na instalação. Quanto mais pessoas, mais alimento. Agora, se ninguém aparecesse por ali, o ecossistema inicia uma sequência de sons agradáveis para atrair pessoas para a obra. Assim, as bolinhas conseguem se alimentar e sobreviver.

Por enquanto, são apenas bolinhas, mas imagine o que se poderá fazer com tecnologias semelhantes. Em breve, não teremos apenas que aprender os diversos ecossistemas que fazem parte de nossa natureza, e sim entender e mapear os que existem virtualmente. E como isso poderia nos ajudar?

Acho que a resposta fica na palestra de Stelarc. Entre as obras apresentadas, o artista comentou sobre a impressora em 3D, que poderia confeccionar objetos reais em pouco tempo. Um dos estudos de Stelarc é como produzir células vivas de forma a compor outros elementos em nossos corpos. Então, juntando as duas pesquisas – impressora 3D e células vivas -, em breve poderemos ter acesso a uma impressora que crie orgãos vivos para serem transplantados em poucos minutos.

Claro que existem ainda diversos fatores a ser considerados (será que um coração impresso, por exemplo, conseguiria ter batimentos cardíacos e sua musculatura funcionar normalmente, igual a um coração saudável?), porém, ver por onde as pesquisas caminham é bastante promissor. Stelarc, por exemplo, mostrou em que pé, ou melhor, em que orelha está a pesquisa sobre células vivas. Ele é cobaia de um experimento em que se implantou uma prótese de orelha no braço como forma de criar células vivas no formato exato do órgão (como se pode ver pela foto acima).

Agora, imaginem se cruzassem as pesquisas de Stelarc e McCormack e se criasse um ecossistema virtual que estimula o crescimento de células vivas para a criação de órgãos para transplantes?

Sem colocar as questões religiosas em pauta, os avanços poderão ser usados para melhorar a qualidade de vida, principalmente daqueles que são portadores de necessidades especiais. Em breve, talvez, seremos todos imortais.

Será?

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