O modelo educacional tradicional está fadado a ser reestruturado. A lousa – ou quadro negro -, hoje, ainda continua sendo a interface que grande parte dos professores brasileiros utilizam para transmitir conhecimento para cerca de 50 alunos de uma só vez, enquanto fora dali eles têm a oportunidade de aprender por meios mais rápidos, dinâmicos e interessantes. Como juntar a tecnologia e a educação de maneira pacífica e que seja benéfica para ambas as partes, professores e alunos?
O Ministério da Educação organizou o seminário Educação e Novos Paradigmas – EduTec, no Rio de Janeiro, para trazer iniciativas que estimulem o aprendizado e mostre novas maneiras de passar o conhecimento além do tradicional “fala que eu escuto”. A ideia era exibir o que educadores das mais diversas áreas ao redor do mundo fizeram para remodelar a estrutura tradicional de trasmissão de conhecimento.
Os palestrantes foram os mais diversos, saindo de hackers que montaram o primeiro HackerSpace do Brasil, passando por professores que montaram um ônibus itinerante para ensinar o letramento em artes, até chegar a um empresário da Malásia focado em estruturar softwares educacionais multimeios. Como diz o próprio site, as exposições são para que, em curto espaço de tempo, o país possa aumentar seu Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) e erradique, de uma vez por todas, o analfabetismo. As tecnologias, então, surgem como alternativas reais para democratizar o acesso à educação.
Quem pôde participar teve a oportunidade de ver a Marion Wilson (de quem eu já falei aqui), da Universidade de Syracuse, explicando como foi o processo de comprar, reformar, reestruturar e sair pelas cidades dos Estados Unidos com um ônibus que seria a sala de aula para o aprendizado de artes. Lá no país norte-americano há o grande problema de que as universidades possuem financiamento das empresas privadas e do governo (por causa do estímulo às patentes e pesquisas privadas), enquanto os colégios públicos não recebem investimentos concretos para melhorar o aprendizado dos jovens. Vendo esta brecha, Wilson resolveu montar seu ônibus e visitar as escolas para complementar sua grade curricular e possibilitar o acesso às artes por comunidades mais carentes.
Outra iniciativa interessante é a do próprio hackerspace citado acima. O Garoa Hacker Clube pegou a metodologia de espaços internacionais que ensinavam e exploravam as tecnologias para desenvolver novos aparatos. É um laboratório tanto de hardware quanto de software livres preocupado com a disceminação do conhecimento referente à temática. Quem apresentou a iniciativa foi Felipe Sanches, que milita e pertence a grupos de software livre desde quando frequenta os corredores da POLI-USP. O Garoa, que funciona lá na Casa de Cultura Digital, dá diversas oficinas sobre, por exemplo, Arduíno ou como aprender a desenhar para melhorar suas técnicas de design. Seu site, um wiki, é um belo repositório de experimentações e discussões acerca destes processos tecnológicos. Ao ver uma iniciativa como esta sendo explicada a professores, alunos e pesquisadores de educação fica evidente o quanto é necessário inserir na grade primária noções técnicas de código para os alunos. Somente assim eles poderão já sair do colégio não considerando os computadores e outros aparatos tecnológicos alheios a sua vida, mas sim meios para ajudar em qualquer atividade que eles queiram fazer.
As palestras foram transmitidas ao vivo pelo site, mas em breve devem estar disponíveis para qualquer um ver em qualquer hora. Vale a pena também pesquisar as iniciativas dos palestrantes e entender como os processos poderão mudar em pouquíssimo tempo.