#CrowdfundPaRato: a revolução colaborativa

E quando a revolução usa o sistema para acabar com ele próprio? E quando os cidadãos se organizam de forma pacífica, ordenada e colaborativa para, teoricamente, cobrar das autoridades a justiça que foi esquecida? E quando a sociedade pode responsabilizar grandes bancários por má gestão e, praticamente, quebrar um país?

A Espanha está passando exatamente por isso. Um grupo de cidadãos entrou com um projeto em uma plataforma de financiamento coletivo para arrecadar fundos para processar o ex-presidente do banco Bankia, Rodrigo Rato. Segundo o grupo, Rato foi responsável pela campanha para que pessoas físicas comprassem ações do novo banco (que tem cerca de dois anos de vida) com o apelo de que qualquer um pode ser um banqueiro. O problema foi que, depois de 10 meses, as ações caíram de cerca de 3 euros para 1 euro, o presidente se demitiu do cargo e o banco entrou com um pedido de ajuda estatal em 19 bilhões de euros (fora os outros cerca de 4,5 bilhões pedidos em 2010, o que gera o montante total de cerca de R$ 58,5 bilhões).

O presidente, Rodrigo Rato, saiu do banco, mas ainda assim possui seu cargo em uma das empresas pretencentes ao grupo BFA, que administrava a entidade financeira. “Solicitamos a prisão e embargo dos bens em valor equivalente à quantidade obtida com a disponibilização irregular das ações. Foram enganados cerca de 400 mil investidores – sendo muitos casos de investidores em poupança na própria entidade – para que ficassem com o dinheiro que, agora, misteriosamente desapareceu, levando o país para a beira do resgate (de recapitalização)”, explica o texto da página.

O grupo queria arrecadar um pouco mais de 15 mil euros para abrir um processo contra o banqueiro. Em pouco tempo, não só atingiram o valor pretendido, como já chegaram na quantia de 19 mil euros (mais ou menos R$ 48,6 mil). O dinheiro arrecadado é para cobrir as despesas por um ano de processo e acompanhamento jurídico contra o banqueiro.

“A Constituição espanhola, em seu artigo 119, estabelece que a justiça será gratuita quando assim disposta pela lei e em qualquer caso que diga respeito a quem possui de recursos insuficientes para litigar. Em nosso caso, temos claro que colocar Rato e os demais responsáveis pela fraude do Bankia na cadeia não é uma iniciativa que será respaldada por aqueles que fazem as leis. Tão pouco ajudaria acreditar que dispomos de enorme quantidade de recursos econômicos para se entrar com um processo dessa dimensão. Definitivamente, não vamos poder contar com os instrumentos do Estado (que também não confiamos muito). E, além disso, pensam que não podemos fazê-lo [entrar com o processo] porque não temos dinheiro, mas o que eles não contam é que somos muitxs e que com uma pequena contribuição de cada um vamos conseguir.”

Veja: a ideia de que grandes poderes – ou seja, pessoas ricas e/ou influentes – são inatingíveis por causa da verba necessária para conseguir enquadrá-los nas leis que, teoricamente, foram esquecidas está prestes a cair por água abaixo. Agora, graças à colaboração e aos financiamentos coletivos, pode-se responsabilizar “grandes poderes” por problemas à sociedade. Seja a lei esquecida ou não, os cidadãos agora possuem o poder de lembrar quem são os responsáveis. E, além disso, usarão o próprio sistema para isso.

A revolução já começou.

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