Ciência para todos!

O Biodiversa já demonstra como a biologia e a diversidade são temas extremamente interessantes. Frutas que são matérias-primas para materiais de construção, peixes que possuem escamas que influenciam a engenharia e venenos que servem para curar. Ler sobre tudo isso até que dá aquela vontade de pesquisar mais sobre processos biológicos e, quem sabe?, se tornar um cientista. E por que não?

Ao mesmo tempo em que vivemos com a democratização dos códigos programacionais (em que cada vez mais pessoas sabem o básico e se interessam pela temática), há grupos e movimentos que buscam proliferar outros códigos mais, digamos, orgânicos. O DIYBio, por exemplo, é uma rede de cientistas amadores espalhados pelo mundo com o intuito de proliferar o conhecimento de forma aberta, descentralizada e, o mais importante, ética. O movimento é pela possibilidade de se criar laboratórios experimentais dentro de casa, como forma de aproximar os avanços científicos do cidadão comum.

Quando o Projeto do Genoma Humano foi lançado em 1990 para mapear o DNA, o código genético era algo que estava bem longe da vida cotidiana. Parecia até ficção científica. Mas existem mecanismos simples para, inclusive, isolar o material genético e duplicá-lo para experimentos fáceis. A Universidade de Cambridge organizou uma espécie de feira de ciências em que alguns grupos que pregam a democratização do conhecimento científico demonstravam como isolar o DNA usando apenas líquido para lentes de contato, a bebida destilada rum e detergente. Em alguns passos, era possível isolar o DNA perfeitamente.

E é legal também ver a exploração da biologia para fins artísticos, como é o caso das obras de Eduardo Kac e Stelarc. O primeiro, brasileiro radicado nos EUA, atraiu a atenção da mídia ao criar um coelho fluorescente trabalhando com o conceito de arte transgênica. Ele também, em 2009, criou um kit focado em estudos sobre transgênicos chamado “Cypher”. Dentro, o usuário pode encontrar ferramentas para brincar com um poema que foi encodado como material genético sintético. Dessa forma, ele não só faz com que o público seja um cientista, mas também dá vida à sua obra de arte.

Já o australiano Stelarc (sobre quem eu já comentei aqui) explora as extensões que o corpo humano pode ter. Grande parte de seu trabalho é focado em exoesqueletos, ou seja, maquinários acoplados ao corpo humano para dar movimentos sobrehumanos. Mas a obra mais emblemática e que representa essa brincadeira com o orgânico e o biológico é o implante de uma orelha sintética que ele fez no braço. O objetivo era usar uma prótese que estimulasse a produção de células de cartilagem para que a orelha fosse integralmente instaurada.

Vendo o crescente interesse pelo público amador sobre a temática, a Universidade da California realizou, em 2009, a conferência em 2009, “Outlaw biology? Public participation in the age of Big Bio” (ou Biologia criminosa? Participação pública nos tempos da Grande Bio, em tradução bem livre). Embora tenha sido realizada há dois anos, o site do evento possui os vídeos das palestras, além de links para as oficinas que foram realizadas com o público.

Foi neste evento que Meredith L. Patterson, pesquisadora e grande escritora sobre biohacking, leu o manifesto biopunk, que defende a democratização das ferramentas e conhecimentos científicos desde a educação primária. Como o manifesto argumenta, “o letramento científico é necessário para o funcionamento da sociedade nos tempos modernos. Letramento científico não é educação em ciências. Uma pessoa educada em ciências pode entender a ciência; uma pessoa cientificamente letrada pode fazer ciência. Letramento científico empodera todo mundo para ser um contribuidor ativo em sua própria saúde; na qualidade de sua comida, água e ar; e na própria interação com seu próprio corpo e com o mundo complexo ao redor”.

Outros grupos descentralizados que promovem os mesmos princípios podem ser encontrados nos Science Hack Days que acontecem pelo mundo. Nesse fim de semana, por exemplo, aconteceu uma edição em São Francisco, nos EUA. O site ainda tem um passo-a-passo de como organizar um encontro desses em sua cidade. Quando veremos um aqui no Brasil?

Navegando pela internet, achei também esta palestra bem interessante sobre como biohacking pode estar bem próximo de qualquer um, principalmente se for trabalhada usando os conceitos que envolvem a liberdade de conhecimento (inovações não patenteadas e abertas a todos). O palestrante, Drew Endy, professor assistente do departamento de engenharia biológica da Universidade de Stanford, até explica o exemplo de um grupo de alunos de colégio que, graças às informações espalhadas pela rede e acessíveis a todos, criaram uma forma de acabar com o odor das axilas por meio de substâncias encontradas na banana!

No fim, “a gente não quer só comida, diversão e arte”. A gente quer também ciência e a vida como a vida quer.

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