O ciborgue aparece como mito precisamente onde a fronteira entre o humano e o animal é transgredida. (Donna Haraway)
A rede é palco de diferentes vozes, simultâneas, divindo espaço entre mecanismos de busca e seleções de editores para que possam ser ouvidas de algum modo. Grupos e mais grupos se amontoam em listas de discussões para tentar chegar a consensos sobre temáticas cada vez mais deliberativas. Quem nasceu primeiro: o ovo ou a galinha? Existe algum deus que nos rege? Será que os humanos estão fadados à destruição? Quais são os limites orgânicos de nossos corpos?
Eu já comentei sobre como a rede é usada para, por exemplo, levantar questionamentos sobre o feminismo e combater o preconceito. Indo um pouco mais fundo ainda neste assunto, como podemos pensar a sexualidade feminina em um futuro inorgânico, no qual o humano e a máquina se entrelaçam e a androginia é cada vez mais presente?
Foram essas ideias que motivaram Donna Haraway a escrever o Manifesto Ciborgue, um marco na discussão sobre a integração entre a ciência e os avanços tecnológicos e a vida orgânica. Mais do que suscitar discussões sobre o feminismo em um mundo cada vez mais integrado, o ensaio é uma referência à evolução da sociedade humana focada em um corpo mais sobrenatural. Em outras palavras, é a ideia de que o homem é uma máquina a ser cada vez mais aperfeiçoada e disponível à superação de limites até então naturais.
A literatura sobre ciborgues é vasta. A filmografia então é outra quase sem fim. A ideia da junção entre homem e máquina povoa o imaginário ocidental há centenários.
Hoje, existem diversas outras teorias, com base na evolução do homem-máquina, que norteam pesquisas e, até, comportamentos. Eu, por exemplo, fui contemplado com uma bolsa de estudos, concedida pela Fundação Nacional de Artes (Funarte), para estudar como o conceito de cibridismo está interferindo e influenciando a produção audiovisual brasileira. Todas as pesquisas, fichamentos e entrevistas estarão no blog Arte do Cibridismo, dentro do espaço da Culturadigital.br (aliás, lá você conseguirá encontrar trechos do manifesto de Haraway dentre outras obras relacionadas ao tema).
O cíbrido é a realidade que existe entre os mundos off e online. É algo que fica entre os dois limiares, sem saber ao certo se pertence a um ou a outro. É a integração, cada vez mais presente, de nossas necessidades com as oportunidades tecnológicas. É um mundo em que os celulares fazem os papéis de telefones, agendas, câmeras de vídeo e foto, mapa, bússula, calculadora e por aí vai. Um simples mecanismo com centenas de funcionalidades que é carregado no bolso de cada um.
Tudo isso sem levantar questionamentos sobre a biotecnologia, genética, biofeedback e etc. Será que estamos criando um admirável mundo novo moderno? Não sei. O bom é que ainda temos a criatividade para abusar dessas ferramentas e, ainda, continuarmos respirando naturalmente.
Imagem feita por J_(mtonic.com)
4 Comments
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