A apropriação das tecnologias nas periferias


Uma das maiores questões quando se trata de tecnologias é o acesso por parte da população pobre. Afinal, há a impressão de que o acesso a computadores é tão caro que fica inviável para os integrantes das classes D e E entrarem neste mundo.

Quando acompanhei o TEDxSP, a palestra de Regina Casé me provou que apenas parte desse discurso é verdade, e quando há a necessidade, não há barreira econômica que impeça o acesso. Como? Por meio da produção cultural.

A música na periferia usa as novas tecnologias de uma forma espantosa. O mais interessante é que se vê que este uso é comum no Brasil, enquanto em outras terras, como o México, Angola e França, a pegada é outra.

Aqui, os DJs de Cidade de Deus, no Rio de Janeiro, usam as lan houses (espaços privados de acesso à internet e computadores) para compor suas obras com artistas e produtores culturais de outras cidades. É uma composição coletiva, que a rede tornou possível e reduziu os custos. Se não fosse por isso, eles teriam que enviar o CD para outros locais, ou até se descolar para trocar experiências e sugestões.

Como questiona Regina Casé sobre a produção cultural da periferia, “a grande mídia tem um certo nojinho e acha que isso não é cultura, muito menos popular. E há a expectativa que eles parem de produzir e seja oferecida uma coisa mais chique – o que, na minha opinião, é preconceituoso e ingênuo”.

O mais impressionante é que ninguém entrou nas favelas e obrigou os moradores a usarem as tecnologias para produzirem e divulgarem os seus trabalhos. Elas, organicamente, surgiram como um espaço para a divulgação que antes não existia, por causa do monipólio da grande mídia na opinião da população.

O caso de maior destaque acontece em uma capital no norte do país, Belém, no Pará. Lá, os bailes da periferia, chamados de “aparelhagens”, são produzidas em estúdios minúsculos e sem muitos investimentos, além compactar as músicas em MP3 para divulgar o trabalho dos artistas. O modelo de negócio é focado no evento, e não na quantidade de CDs que foram vendidos. O ritmo? Vai do brega, passa pelo tecnobrega e chega ao cyber tecnobrega.

E quem os ensinou a usar isso? Ninguém. Como diz um dos entrevistados dos vídeos abaixo, “eu aprendi a usar o computador na marra”.

Imagem retirada do flickr de Henrik Moltke.

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