Uma tia-que-não-era-tia-mas-era-tia era diretora de um grande museu. Ela faleceu e deixou a administração para que eu fizesse, embora a gente nunca tinha sido muito próximo. Não sei quanto tempo se passou, mas organizei um evento em sua homenagem para inaugurar umas escadas que terminaram de ser concluída e facilitavam muito o acesso ao museu e às obras de arte. Eu estava inconsolável. Minha tia tinha gastado a fortuna da família (cerca de R$ 2 milhões) para construir as tais escadas. Ao falecer, a obra ainda precisava de investimentos. Sem opção, usei toda a verba que eu tinha ganhado de um prêmio para concluir os trabalhos. Não conseguia nem me aproximar de onde o evento estava acontecendo. Chorava, chorava e chorava. Foi quando um segurança me viu e se aproximou, perguntando o que houve já que aquele dia deveria ser de alegria. Expliquei que o museu não tinha dinheiro para esta obra e que eu e minha tia colocamos verbas pessoais para que ela fosse possível. “Quanto?” Uns R$ 3 milhões. Chorava e dizia: “de que adianta ser patrono ou defensor das artes se nem meu aluguel eu consigo pagar?” Depois de ter falado com ele, ainda com as lágrimas no rosto, fiquei com a questão de acesso na cabeça e pensava em qual era o limite entre fornecer acesso e viver. De que adianta dar o acesso a outras pessoas se você mesmo é penalizado por tudo? Quem é que deve ter direito ao acesso? E qual acesso deve ser o prioritário: o às artes ou o à vida?