http://www.youtube.com/watch?v=IGH2HEgWppc
Foi viral. Em pouco tempo, milhares(ões?) de vídeos dominaram o YouTube com versões do que seria uma dança característica de um bairro de Nova Iorque, o Harlem. A paródia dos passos, que surgiram em uma quadra de basquete do bairro, ganhou tantas versões e tamanha proporção que o original ficou esquecido em algum lugar da memória.
O artigo “Harlem Shake Video: How Internet Gentrification Ruined the Dance” narra como a gigantesca quantidade de novos vídeos promoveu o que se chama “gentrificação online”. Enquanto a gentrificação em espaços físicos é a troca da classe mais pobre pela classe média, aqui é uma gentrificação cultural promovida por meios virais online.
O vídeo acima é uma amostra sobre como os moradores do Harlem, bairro que sofre um processo de gentrificação pesado graças às expansões da Universidade de Columbia e políticas públicas que promovem a “luxorização” de Nova Iorque, receberam as interpretações. As derivações chegaram a tal ponto que se tornou uma ofensa ao que era originalmente. O Harlem Shake, então, perde o seu sentido e se transforma em apenas uma piada dentro de uma cultura branca.
O que era algo característico de uma região, de uma cultura específica, se perde pela interpretação que a cultura hegemônica, branca, faz. Hoje, para se achar o que é realmente a dança precisa-se de um significativo empenho para filtrar todas as outras interpretações.
http://www.youtube.com/watch?v=xt_4yv3_INw
Da mesma forma que a gentrificação nos bairros faz, onde a conexão com a terra, com a área, é perdida graças a processos especulatórios, no mundo online culturas de raiz são enterradas por várias outras interpretações e julgamentos. A dança do Harlem, por exemplo, que seriam diversos movimentos até surpreendentes, se torna algo orgiástico, ofensivo, despudorado. O real significado de comemoração de um jogo de basquete se perde no meio de universitários de cueca ou militares nórdicos se debatendo dentro de sacos de dormir.
Cavucando ainda mais a expressão, pensei nos problemas que os algoritmos de mecanismos de busca trazem. O que parece ser algo democrático (sites mais comentados e linkados são considerados mais relevantes e, com isso, ficam no topo), causa o obscurecimento de tantas outras vozes que nunca conseguirão chegar às primeiras páginas dos resultados. Os resultados por relevância acabam, então, camuflando grande variedade de conteúdo e impossibilitam com que se tenha a mesma visibilidade que sites mais – para manter a comparação – hegemônicos. Isso, de certa forma, também é uma gentrificação online, mas focada no enterro de vozes de culturas alternativas.
Agora, como evitar a gentrificação online? Seriam necessárias políticas públicas de preservação cultural virutal? Acordos entre empresas de busca e governos? Criação de novos algoritmos de busca (ou até seleção de que tipo de resultados se quer ter)?
Querendo ou não, a gentrificação online já é uma realidade.