O “ativismo de sofá”

As redes sociais fizeram com que cada um pudesse discutir os problemas que mais lhe incomodam – ou acham importante – para uma rede de contatos que, na teoria, se importaria com o mesmo. Elas viraram as ágoras políticas. Mas junto às discussões, nasce também o que alguns consideram como “ativista de sofá”.

O termo é um tanto quanto pejorativo, por dar a ideia de que são o conformismo e a preguiça que norteiam a discussão dx indivídux, já que elx está em frente ao computador, e não nas ruas protestando. Mas o princípio é esse: em vez de sair em passeatas, jogando coquetéis molotov e carregando faixas de protesto, elx está em casa “reclamando da vida” (como já vi gente falando).

Hum, tudo bem. Elx poderia mesmo estar nas ruas, mas qual é o problema de se protestar pelas redes sociais? Ou discutir temas que são caros à pessoa? Talvez, o problema não seja dx “ativista de sofá”, mas sim das decisões e articulações ainda estarem atrasadas às questões de comunicação do mundo. Enquanto as discussões e decisões ainda não considerarem o plano virtual como válido (e ele é real!), muito deste ativismo pode parecer em vão mesmo.

Mas olhe um exemplo: na semana passada, escrevi sobre o Livehoods, que faz mapas vocacionais das cidades. Quando publiquei o post, a votação para decidir a próxima cidade estava bem longe de ser conquistada por uma brasileira, já que a mais votada entre elas (mais Rio de Janeiro e Curitiba) era São Paulo, com 13 votos. A primeira, Chicago, tinha 115. Em menos de uma semana de articulação por meio de redes sociais (não só o Facebook), conseguimos com que São Paulo fosse a primeira e ganhasse o tão esperado mapa. Ou seja, foram mobilizadas mais de 120 pessoas para votar pela metrópole. Esse mapa pode fazer com que, por exemplo, se descubra a concentracão de aparelhos públicos na cidade em uma determinada região, ou como as periferias utilizam as tecnologias para integrar ao seu ambiente. Enfim, o mapa será genial para diversos projetos futuros. E tudo graças ao “ativismo de sofá” para que isso aconteça.

Agora, se a decisão não fosse colaborativa, qual seria a eficácia da articulação?

Toda! Enquanto informações plurais continuarem fluindo por mídias alternativas ou redes de amigos, toda e qualquer forma de contestação, discussão e divulgação é funcional. Informação, por fim, é poder. E várias articulações políticas se baseiam nisso como ponto de partida para protestos físicos. Se você não estivesse em contato constante com o compartilhamento dos seus amigos, será que você saberia, por exemplo, de iniciativas geniais que pedem financiamento coletivo por meio de plataformas como o Catarse? O movimento BaixoCentro surgiu de uma situação assim. A 1ª Festa Junina no Minhocão também segue o caminho. E assim foi com o Pimp My Carroça (que aconteceu lindamente nesse fim de semana). Com apenas um click, sem sair do sofá, centenas de pessoas viabilizaram projetos sociais e de ocupação.

E quanto mais as decisões entrarem no mundo virtual (que, repito, é real!), mais esse tipo de ativismo será importante. Pense comigo qual situação é mais fácil de acontecer: um jornalzão deixar de falar um assunto importante para dar o que está na moda ou os seus 700 “amigos”? Eu acredito que é muito mais fácil sua rede não só comentar sobre aquele assunto que não deve ser esquecido, como abordar o tema da moda de forma muito mais interessante e plural. Se alguém comenta sobre o abuso de animais, por exemplo, não significa que elx nunca mais comentará sobre a corrupção no Planalto, ou muito menos sobre a Copa. Se alguém posta a foto do irmão de um conhecido da vizinha do ex-apartamento que está desaparecido, não significa necessariamente que elx seja alienadx aos outros assuntos do mundo.

Fora que não são todos os assuntos caros a todas as pessoas. Eu, por exemplo, discuto mais sobre urbanismo e tecnologia. Não estou tão ligado às causas animais (embora, obviamente, apóie) e nem às discussões sobre futebol ou esportes em geral (esses sim eu não tenho nenhuma ligação…). Você pode gostar mais de discussões políticas, como a corrupção; ou como o dinheiro da Copa parece estar sendo mal empregado; ou como a violência em sua cidade tem aumentado; ou as relações internacionais do Brasil com países emergentes; ou apenas notícias sobre a sua profissão na área contábil. Cada um tem seu perfil, seu interesse, suas discussões importantes. A rede é um espaço em que, finalmente, pode-se abrigar todas elas ao mesmo tempo, por várias pessoas simultaneamente.

E, no futuro, quando tivermos um governo mais aberto, as participações políticas poderão acontecer principalmente por meio dessa rede. O futuro está caminhando para isso (inclusive para participações durante o seu trajeto, via celular). Enquanto não é tão real (embora já se dê para articular várias decisões), vamos treinando.

O pior que pode acontecer, nisso tudo, é você mudar de opinião.

1 Comment

O ativismo de sofá está mantendo a iraniana Sakineh viva, por exemplo. Eu acredito tanto no ADS que me considero uma. Ótimo texto!

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