Na oitava série, a professora me ensinou as estruturas para um poema. Escrevi, escrevi e escrevi como se nem precisasse pedir. “Esse daí nasceu para ser poeteiro”, setenciou o meu pai. Gostei da palavra e até fiz um poema, que jorrou graças à velocidade de minhas mãos ao manusear o objeto fálico que é um lápis. Já mais velho, mandei esboços a um escritor considerado transgressor. Ele não gostou. Disse que sua obra era completamente visível em minhas frases, como as palavras “vermelho”, “dor” e “epifania” demonstravam. Fiquei com dó. Se o dicionário é o pai dos burros, qual é a procedência dos burros sem pais?