O público nos vê como divertimento. Somos o aplauso que movimenta seus punhos em instantes de gargalhadas. Quando nascemos, não tivemos oportunidade de escolher. Deveríamos servir. Deveríamos fazer rir. Mas, para tanto, deveríamos sofrer. Só quem conhece os caminhos do sofrimento pode gerar a gargalhada com um piscar de olhos. Nascemos diferentes. O mundo nos encara como excluídos, fora dos parâmetros, além do suportável. No palco, porém, somos deuses. Pintamos nossas caras para que não nos vejam, para que achem que tudo é uma encenação. Sentimos o sentimento apenas com o olhar. E o público vibra. Uma carnificina de risadas, aplausos e emoções pulsantes. Nos matam a cada louvação ao belo. Nos devoram como se fossêmos a refeição. E nós deixamos. É a nossa revanche. É como retribuímos tudo que sofremos. Mostramos nossa estranheza para que se torne tátil. Escancaramos o que se considera grotesco. No palco tudo pode. E não há escapatória.
Pague a nossa vingança.