Rá! Você só pode estar brincando comigo. Você não sabe olhar para o
seu próprio umbigo, meu nego. Caláboca. Suas histórinhas só servem
para me fazer dormir – em dia de insônia ainda! E vem me dizer que,
depois de beber garrafas e mais garrafas de brahma, está sentindo um
vazio? Um vazio!? Axe, diacho, isso tem outro nome, nego. Isso daí são
gases. Solta para fora que você volta a sentir de novo. Sentiu? Tô
achando que isso é falta de louça, isso sim. Eu, hein?!
Carinha-folgado-da-porra. Você que me deixa aqui, sem saber quando
voltar, e, quando chega, diz que está sofrendo? Que deus tenha dó de
mim, meu senhor! O que eu fiz para me meter nessa roubada,
santo-cristo!? Mas coração meu a gente não controla. Mas digo isso,
nego: ele nunca está vazio não. Bobeia aí para você ver onde ele vai
me levar. Vai, vai entornando todas aí pelos botecos, enquanto fica
olhando sainha de neguinha novinha, filet mignonzinho, para você ver o
que acontece. Oxi. Te boto para bem longe. Você e teu vazio aí. Daí
você vai conhecer o que realmente é vazio. Chora para dentro, nego.
Chorar para fora só me dá vontade de pegar o rodo e acertar na tua
cara! Vai. Some. Some da minha frente. Vai tomar uma ducha fria para
ver se resolve essa bebedeira e esse “va-zi-o”. Vai. Eu fico aqui o
dia inteiro fazendo tudo para lhe agradar – lavando a casa, as roupas,
a louça, o quintal; arrumando os quartos; tirando o lixo; fazendo
compras – e você ainda me solta que se sente só. Você não sabe é dar
valor ao que tem, isso sim. Quero ver quando não tiver mais nada como
é que vai se sentir. Aí sim você vai ver o que é vazio.
Nego-burro-da-peste. Eu, hein?! E ainda diz que não consegue segurar.
Veja se posso com um homem desse, meu-deus. Não pode nem se segurar!
Dê-me paciência, Jesus. Vá e me deixe em paz. Não, não precisa. Pode
deixar que eu lavo tudo aqui. Vai para a cama, homem! Vai curar dessa
bebedeira aí. Não quero mais saber de você por hoje. Toma uma boa
ducha gelada e vai se deitar. Não, eu limpo. Vai cuidar do seu vazio,
vai. Não, tira a mão daí. Vai. Vai para a cama, porra. Isso. Amanhã a
gente conversa. Vai que amanhã é outro dia, daí a gente vê o que faz.
Vazio… vê se pode, meu-deus!?