Lembra aquele livro antigo, esgotado, que as editoras não se interessam mais em publicar? Grande parte das cópias em universidades ou instituições de ensino são para driblar a situação de conhecimento ficar a mercê da vontade das editoras. Uma plataforma de financiamento coletivo, porém, quer resolver esse problema e pagar as intermediárias para liberar o conteúdo em licenças livres.
Qual é o esquema? O Ungle.it é uma plataforma igual ao Catarse, mas focada em pagar autores para que liberem o conteúdo de seus livros em Creative Commons. Ou seja, o autor receberia por aquele livro já esgotado e o público poderia imprimi-lo se esquivando do controle das editoras. E até mesmo as editoras podem estabelecer o valor para liberar uma obra. Não tem problema. O foco é liberar a licença, “desgrudar” (traduzindo o nome do site) o conteúdo da proteção total de direitos de autor.
Mas não é todo mundo que está feliz com essa iniciativa não. A Amazon, que era responsável pela administração e recebimento das contribuições do site de financiamento coletivo (da mesma forma que ela faz para o site Kickstarter, versão norte-americana do Catarse), decidiu parar de prestar o serviço e todas as contribuições já feitas e pendentes tiveram que voltar aos doadores. Por quê? Não se sabe direito, mas segundo a notificação enviada por um executivo da empresa aos donos do site, a companhia não poderia dar suporte por causa das particularidades do serviço. O Unglue.it já está a procura de alternativas para não fechar o site e a continuar com seu modelo de negócio alternativo.
A Amazon é uma das líderes na venda de livros e e-books no mundo. Embora não tenha apontado que a causa seja a liberação do conteúdo em licenças mais brandas, a empresa multinacional lucra bastante com o direito de autor e a venda de unidades – e não liberação de licença – de livros. Querendo ou não, parece que a gigante quer dizimar qualquer possível concorrência, mesmo que seja pequena como uma start-up.
O irônico é que a ação vai totalmente contra às iniciativas interessantes que têm surgido graças à liberação dos direitos de autor. Para se ter uma ideia, um homem está disposto, inclusive, a passar um ano de sua vida vivendo apenas com produtos livres, open source. Sam Muirhead, percebendo a crescente adesão ao mundo livre, quer entender quais são os limites que o código aberto encontra hoje. Se ele quiser, por exemplo, comprar uma calça jeans, ele deve procurar uma empresa – se houver uma – que disponibiliza os moldes e ensine como fazê-la como em uma receita (se ele procurar por Hacking Couture talvez ele encontre algumas).
Na explicação simplificada, código aberto é isso: é a publicização da “receita” de como fazer algo. Em um post em seu blog em que ele narra como explicou para a sua mãe a iniciativa, Sam conta que em vez de tomar uma Coca-Cola, ele tem que optar pela versão livre, a OpenCola. Se não houver nenhuma alternativa livre (sendo que ele pode fabricar a “coisa”), a solução é compartilhar algo, como um carro para uma viagem.
A busca é apenas entender até onde vai o mundo open source, livre, de código aberto na sociedade atual, especialmente em uma cidade como Berlin, na Alemanha, onde várias iniciativas com esse conceito surgiram. Sam pediu US$ 20 mil para passar o ano inteiro dedicado ao projeto por financiamento coletivo, mas levantou US$ 6,731. Mesmo assim, de acordo com o vídeo abaixo, ele vai continuar a iniciativa.
Agora, é só esperar para ver.