Crítica estratégica

Clausewitz, no início de sua história sobre a campanha de 1815, dá este resumo do seu método: “Em toda a crítica estratégica, o essencial é colocar-se exatamente na posição dos que têm um papel ativo nos acontecimentos; é verdade que, frequentemente, isso é muito difícil”. A dificuldade consiste em saber quais eram “todas as circunstâncias em que se encontravam os atores” num momento determinado, a fim de estar, assim, em condições de julgar escrupulosamente a série de suas escolhas na condução de sua guerra: como fizeram o que fizeram e o que, eventualmente, poderiam ter feito diferente. É necessário saber o que eles pretendiam antes de tudo e, é claro, o que eles presumiam, sem esquecer o que eles ignoravam. E o que eles ignoravam não era somente o resultado, ainda por vir, de suas próprias operações se chocando com as operações que lhes seriam opostas, mas também muito daquilo que já se fazia efetivamente pesar contra eles, nas disposições ou nas forças do campo adversário, e que, no entanto, lhes permanecia desconhecido. E no fundo eles não souberam o valor exato que convinha atribuir às suas próprias forças até que elas se deixassem conhecer, justamente no momento de sua utilização, cujo resultado, ademais, algumas vezes modifica esse valor tanto quanto o põe à prova.

(Guy Debord, “Panegírico”. pp. 10-11)

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