Ela tinha pegado uma moita e colocado como cabelos para que seus pensamentos sempre ficassem escondidos. Olhava de soslaio e sorria marota com os segredos atrás da moita. Sabia da existência das coisas mais ínfimas, daquelas que a gente nem repara quando encara os pés ao andar pelas calçadas. “Eu sou tudo”, dizia. Achava graça até do fato de não gostar mais do seu amor. Como um segredo. Mas o encarava com tanta ternura que a falta de sentimento vazava pelos olhos. E não conseguia entender como algum dia iria tirar de seus cabelos a chave que abriria a porta da rua. Ao contemplar o vento, porém, ria. A situação era pra lá de hilária. E deixava brechas de que outro queria enveredar por seus arbustos só para provocar. Um outro que só existia ali, atrás de sua moita. E ria. Por apenas ela entender como a vida pode ser única.