Daí pensei em ter aqueles diários, grossos, com páginas brancas para contar pensamentos e dias como esse. E, daí, eu vi que não teria graça, pois aquilo ficaria perdido em minha gaveta, sem ter outras páginas, brancas, completadas com outros dias como esse. Para quê, afinal? E a ideia de vazar para uma folha de papel é pensar alto como se estivesse falando com alguém, um espectador, por fim. Minha gaveta não sabe ler. A outra página, supostamente não tão mais branca pois antecede essa que eu estaria escrevendo, também não sabe. Então, para quê? Vou escrever aqui, por fim, pois daí sei que alguém, um dia, em um talvez, poderá ler o que eu pensei e pensará: nossa, nada a ver.
Lindo. A questão é: o que é a música? A música é meio? É fim? É processo? É uma língua? O que é essa porra que me gusta tanto? Fico pensando em que papel ela pode ter em uma vida que, como disse, gosta de escrever e até cogitou ter aqueles diários, grossos, brancos. Um simples cantor me fez ir à Júpiter e, de lá, até agora, não consegui voltar. Estou preso em certas possibilidades e anseios que só Júpiter, com sua gravidade esmagadora, poderia provocar em um corpo instável e fabricado na Terra, em que o atm é 1. Qual é a sua arte? Sério mesmo. Me diz: qual é a sua arte? Assim, todo mundo tem a sua arte. E não precisa ser artista e todas aqueles conceitos por trás. Só um simples: qual é a sua arte? Tenho uma amiga que diz que sua arte não é a arte em si, mas o processo artístico. É o ato de criação como produto, e não como processo. E o processo como definição de que, sim, é uma artista – sem nem ao menos ter uma obra pronta. Daí rola mais uma pergunta chata nesse mar de Júpiter que é: que porra é a definição de artista? E por que raios é preciso se chegar a alguma resolução em relação a isso? O que mais me preocupa e me instiga agora é entender a experimentação como processo necessário para se entender o próprio processo. Tipo, preciso experimentar isso, aquilo, aquilo lá, para saber que, na próxima vez em que a vontade de escrever em diários não existentes chegar, eu vou precisar disso, aquilo outro e aquilo lá. E pronto. Eu, por exemplo, em Júpiter, já entendi o processo do foguete que me trouxe aqui (em outras palavras, a música). Estando aqui, há um mundo tão grande inexplorado que fico sem saber para onde ir e que ação tomar. Percebi, contudo, que luz é algo que eu devo brincar mais, que é por ela – e por espelhos… quero muitos espelhos – que se dá para fingir ser uma coisa que não se é, ou então transformar uma simples fagulha em algo grandioso e refletido em diversos lugares. Outra coisa é a roupagem. Se vestir é um processo um tanto quanto agudo para uma vida obtusa de outro planeta, outra gravidade, outro atm. E, aí, precisa-se se jogar mais panos em algo que busca se aparecer. O paradoxo artístico, por fim. Mas e você? O meu eu já sei. Convivo com ele. Mas e o seu? Qual é?