O ombro se mexeu descompassado das pernas, que tentavam andar normalmente pelas ruas. Mais uma vez. E de novo. Estranho. De repente, ambos os ombros começaram a se mexer para frente e para trás, em um ritmo crescente mas sem muito controle. Pelos movimentos, dava-se para ver as batidas dos tambores. “É a pombagira”, pensei. E bate de novo. No meio da rua, em um país estrangeiro, a pombagira tentava entrar em meu corpo e me mostrar uma outra visão. “É melhor me jogar no chão para facilitar ela entrar”. Me joguei. Em questões de segundos, percebi meu raciocínio mudando: não era mais eu no controle, mas sim um outro alguém usando a minha estrutura física. Por segundos, senti-me incorporado por uma entidade que tem uma visão bastante particular do mundo. Ninguém ao meu redor nessa terra estrangeira entenderia. A visão deles não possibilita interações além planos físicos. Mas a pombagira foi até lá para mostrar que, sim, era possível.
Na véspera do meu aniversário, fui tocado por uma pombagira.