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A Internet Deu Ruim
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Não mais que de repente, todo o setor artístico e cultural só fala apenas de uma coisa: NFTs, ou non-fungible tokens, ou tokens não fungíveis. Eles viraram a commodity da moda. Todos querem ter, todos querem vender, todos querem entender, e todos tem uma opinião sobre o assunto.

Vamos, então, detalhar 5 pontos quando o assunto envolve arte e criptomoedas.

Antes de entrar nos tópicos propriamente ditos, só deixa eu explicar o básico para você que chegou agora.

No começo deste ano, o mercado da arte entrou em parafuso quando a Christie’s, uma das maiores empresas de leilão de arte — e aqui, arte-arte mesmo, aquelas que envolvem os artistas que são considerados blue chips, ou seja, que assinaram obras que chegam nas cifras mais altas dos lances –, colocou em um de seus leilões uma peça de NFT do artista Beeple.

Você por acaso já ouviu falar nele? Pois é, nem eu, nem meus amigos, e nem muita gente.

Ele era famosinho no Instagram com seu projeto de fazer uma ilustração digital por dia, e desde o fim de 2020 se aventura com NFTs. Mas ele estava longe de ser um artista reconhecido, renomado e gabaritado pelo mercado da arte.

Mas mesmo assim a Christie ‘s decidiu levá-lo a leilão. Para tanto, Beeple criou uma obra com a compilação de mais de 5,000 imagens desse projeto no Instragam. E a obra foi arrematada por nada mesmo do que 69 milhões de dólares. Pois é, 69 milhões de dólares.

Mas o que é NFT, ou melhor, tokens não fungíveis? Melhor, o que é fungibilidade?

Segundo o artigo na Wikipedia, “Fungibilidade é o atributo pertencente aos bens móveis que podem ser substituídos por outros da mesma espécie, qualidade e quantidade.” 

Um exemplo é o dinheiro. Se você tem uma nota de 5 reais, por exemplo, você pode trocá-la por 5 moedas de 1. O que importa é o valor, e não necessariamente o objeto.

Os bens não-fungíveis então são aqueles que não possuem valores correspondentes. Eles são únicos por excelência e, então, podem ser considerados inestimáveis.

O mesmo se aplica para as obras de arte. Não se pode quantificar o valor de uma obra, já que ela varia conforme a trajetória do artista, do momento histórico, do interesse do comprador, de quantas e quais exposições participou, se tem alguém especulando em cima de sua produção, etc.

Pronto, agora o que significa o token?

Primeiro de tudo, deve-se entender o que é uma criptomoeda.

A criptomoeda funciona como o dinheiro normal, mas baseado em uma criptografia e em um sistema que é conhecido como blockchain.

A criptomoeda usa desse sistema para garantir que as transações são seguras e reais. No caso dos tokens, significa que o blockchain representa também um objeto ou um uso es   pecífico que está determinado dentro da criptografia.

O NFT é esse token. O artista cria uma obra de arte, entra em um site específico para gerar o bloco, paga uma quantia em criptomoeda (normalmente, a Etherum dentre tantas outras) e já pode vender a sua obra.

É importante entender que o NFT não é a obra em si, mas sim uma representação e um certificado de que a obra existe, de que há um autor e de que existe um proprietário. E essas informações ficam armazenadas na própria criptografia, o que garante a autenticidade da obra.

Lembram dessa sonora aqui:

[sonora do Teixeira]

No caso do NFT, isso já estaria resolvido. O que se argumenta é que, por meio da criptografia envolvida, toda a questão de autenticidade e, consequentemente, valoração dos trabalhos digitais estaria garantida.

Agora que já sabemos o básico, vamos às 5 considerações sobre NFTs.

  1. É preciso discutir a tecnologia, e não a bolha

Como toda a moda, hoje há muita especulação sobre as obras em NFT, como demonstra a obra do Beeple leiloada pela Christie’s.

Mas não é por causa disso que se deve considerar os NFTs como apenas especulação ou modinha. Esse tipo de obra já poderia ser prevista há anos, desde quando as blockchains e as criptomoedas ganharam popularidade — lembrando que um dos grandes investidores em arte são os especuladores do mercado financeiro, sejam as obras digitais ou não, que fizeram fortunas recentemente quando criptomoedas ficaram pop.

Até eu, durante meu mestrado há quase 10 anos, já esboçava algo parecido em alguns artigos para as aulas. Logo, a popularidade hoje em dia não deve ser vista somente por causa da novidade, como se todos voltassem os olhos à obra digital por ser algo novo e que daqui a um tempo desaparecerá.

Acredite, não é algo novo e nem será algo que deixará de existir — pelo menos, em breve. O alarde todo é justamente porque grandes instituições do mercado da arte, como leilões, já estão trabalhando com esse sistema. Ou seja, já reconheceram a validade e a possibilidade de criar coleções apenas com obras adquiridas em NFTs.

  1. NFT não é o objeto artístico e NFT não é apenas para imagens

Por mais que as pessoas falem que NFTs são as próprias obras, na verdade, o que se adquire é o contrato. O NFT é esse bloco criptografado com todas as informações sobre ela, inclusive com uma imagem para ilustrar a obra. 

Até por isso que se tem a impressão de que só dá para fazer NFTs com arquivos ou ficheiros em PNG ou JPG. Se pode fazer com qualquer outro tipo de extensão. O importante no processo é apenas carregar uma imagem para que se ilustre qual obra que se representa no bloco.

  1. Autoria não é algo protegido pelo contrato

Lembram que eu disse que a autenticidade já estaria garantida? Então, na verdade, não é tão simples.

O que o NFT garante é a autoria de quem criou o bloco, e não do real autor da obra. 

Em outras palavras, eu posso pegar a imagem do quadro da Monalisa e criar um bloco para vender como NFT. E, depois, ninguém poderá modificar que eu sou o criador daquele bloco.

A questão é quem gostaria de comprar uma obra que o vendedor não é o real autor. Eu até posso criar, mas por enquanto ela não será tão atrativa para ser vendida por um preço considerável.

Por causa disso, deve-se tomar muito cuidado ao trabalhar com esse tipo de contrato para garantir que, realmente, se está adquirindo um conteúdo com o verdadeiro autor registado.

  1. O detentor preserva a obra

Se o NFT não é a obra em si, por que eu a compraria?

O contrato criptografado dá o direito do detentor de exibí-la, vendê-la e decidir quais serão seus próximos passos.

Por isso, geralmente quando se adquire uma obra, o artista entrega ao colecionador um manual de preservação e instruções sobre como exibi-la em instituições artísticas.

Grande parte dos atuais colecionadores de NFTs, na verdade, estão investindo no futuro, em como se poderá trabalhá-los quando a tecnologia, por exemplo, estiver mais inserida no mercado da arte.

Em uma entrevista, Beeple disse que a pessoa que adquiriu sua obra pensa em chegar à quantia de bilhões nos próximos anos quando for revendê-la.

O futuro é o futuro.

  1. NFT é imutável

E o imutável é quando pensamos no passado, e não no futuro. O bloco pode receber atualizações uma vez que armazena todas as transações que acontecem com determinada obra.

Por ser imutável, é necessário também prestar atenção aos parâmetros.

Em NFTs, é possível garantir que os artistas envolvidos em uma obra possam receber porcentagens durante a vida da obra para cada revenda. No fim, pode-se criar qualquer parâmetro que se deseja.

O problema é que ele não poderá ser mudado no futuro.

E por ser imutável, é importante que nossa discussão foque nas possibilidades e significados da tecnologia. Esqueça a moda por enquanto. A grande questão, na verdade, é:

O que poderemos fazer com NFTs além do que se está sendo feito hoje?

É assim que pensamos em alternativas.

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