Aprendi que o mundo era redondo. Que uma laranja era redonda. Que a bola de futebol do recreio era redonda. Que a melancia do lanche um dia fora redonda. Não tinha me tocado que eu era redondo, assim como o mundo, a laranja, a bola e a melancia. Até que surgiram vários adjetivos relacionados a esse outro. O redondo ganhou diversos outros significados, feios, pesados, nojentos e inferiores. O fator redondo interferiu na minha gramática. Adjetivos, todos, agora, eram ruins, não interessavam se belos, se elogios, se exaltados. Não os queria perto das frases que me dirigiam, sejam pela primeira pessoa, pela terceira, pelo meu nome ou por um simples apontar de dedos. Os adjetivos deveriam estar ligados apenas à lisura, à magreza, ao esbelta. A mim, apenas substantivos. Uma gramática, por fim, coxa.