A personificação do consumo

Existem milhares de teorias para explicar as tendências da nossa sociedade. Empresas e agências encomendam dezenas de pesquisas para entender qual será o próximo nicho a ser explorado por nosso sistema econômico. Tudo para saber qual o produto que estará nas mentes – e nas mãos – de milhares de consumidores.

Vendo o documentário “Objectified”, de Gary Hustwit, fiquei na cabeça sobre qual seria a próxima onda do momento, a próxima coqueluche dos consumidores do mundo inteiro. O filme, questionando a produção e criação do design de objetos na sociedade, explica os processos que cerceiam nossa busca pela identidade, aqueles objetos que demonstram o que pensamos, queremos e acreditamos.

Desde o método fordista de produção, em que os produtos são feitos iguais e em série, a indústria tem se reinventado para dar vazão aos anseios dos consumidores de possuírem algo único, singular, feito especialmente para eles. A padronização fez com que os consumidores exigissem customizações, mais opções e possibilidades. E cada vez mais produtos são colocados no mercado que mostram algo diferente, com um design moderno, novo, bonito. No fim, o próprio uso do termo “design” recebeu significação de marca para atrair novos clientes que fogem do “mais do mesmo”.

Esse tipo de exploração vai de encontro com os movimentos do DIY (do it yourself, ou faça você mesmo), ou seja, em vez de se render ao padronizado que é oferecido, inicia-se a produção e customização próprias. O movimento punk, por exemplo, é um representante desse sentimento de achar uma identidade única e lutar contra o “mainstream”. O hip-hop também é outro exemplo. O livro “The Pirate’s Dilemma”, de Matt Mason, mostra alguns outros exemplos e explica melhor essa busca, mas com a defesa da tese de que na cultura e na sociedade, “nada se cria, nada se perde, mas tudo se copia”.

Hoje, os consumidores têm cada vez mais oportunidades para adquirir produtos customizados, com a ideia de que serão os únicos a possuí-los. Páginas como o Threadless (e a versão brasileira, Camiseteria) ou Society6 dão a possibilidade de se comprar roupas ou quadros direto de artistas e designers independentes e pouco conhecidos. Produtos únicos.

As impressoras 3D caseiras parecem ser o próximo passo para se ter objetos individuais e que expressam melhor a identidade de seus criadores/donos. A partir delas, pode-se criar objetos e protótipos facilmente, sem ter que correr para fábricas ou designers de produtos profissionais (embora ainda se exija o domínio de alguns softwares um pouco mais complexos). Você, eu ou sua família podem, inclusive, criar peças para construir outras impressoras 3D e multiplicar as possibilidades.

Parece que o próximo passo do mercado, influenciado por essas facilidades tecnológicas e por uma sociedade mais focada na personalização, será a criação de seus próprios produtos, em que se deixa o papel de apenas consumidor para ser, também, produtor. A relação passiva de que produtos são oferecidos e consumidores são compradores pode mudar drasticamente nos próximos anos. E pode ser que cada vez mais as pessoas se vejam distantes das empresas e sejam responsáveis pela criação de todos os materiais que se usam cotidianamente. Tudo de forma independente.

Na imagem, um coelho feito com uma impressora 3D

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