E a chamada pública para fazer parte da terceira edição do Festival CulturaDigital.BR trouxe um panorama sensacional tanto sobre a temática no Brasil, quanto no mundo. Foram cerca de 365 projetos inscritos para fazer parte da programação do evento que abarcará pelo MAM e Cine Odeon, lá no Rio de Janeiro, na primeira semana de dezembro.
Os projetos estão mais do que abrangendo as diversas vertentes das tecnologias (como ferramentas livres, experimentações em vídeo, discussões sobre música, questionamentos críticos e tantos outras), eles demonstram a constante inovação que a cultura brasileira faz questão de trazer ao se apropriar do novo. Um dos projetos que me chamou a atenção é o Pandeiro Montagem, que consiste na exploração do pandeiro, instrumento, como controle de um remix de videomontagens. A performance usa os sons do pandeiro casados com mudanças e remixagem no vídeo. O que mais me interessou não é nem o resultado estético da obra, mas como a cultura brasileira explora e se apropria das tecnologias disponíveis. Um pandeiro com sensor de movimento que remixa imagens criando um funk suingado é uma bela experimentação do que pode ser feito.
Talvez a grande estrela da chamada pública, que apareceu em diversos projetos, é a placa livre Arduíno (que eu já falei sobre aqui). São diversas iniciativas que modificam e reapropriam a tecnologia para criar novas placas e novos apetrechos. O grupo Gambiologia, por exemplo, criou o “Gambiolino”, que é uma placa similar a do Arduíno, porém mais compacta e sem possuir entradas USB, o que reduz o custo e continua permitindo que se programe componentes eletrônicos como LEDs, monitores e motores.
Outra iniciativa nacional envolvendo a placa criada na Itália é o Brasuíno, que fabrica o hardware livre em solos brasileiros e adaptados à realidade do país. Tudo feito com ferramentas abertas, livres e prontas para serem exploradas por quem tiver interesse. O projeto quer reduzir o custo para a utilização destas placas, já que a importação pode atingir R$ 100 (preço nada competitivo e caro para utilização amadora em oficinas de garagens ou porões).
Embora ainda poucos, mas presentes entre os projetos inscritos no festival estão iniciativas que querem investigar, por exemplo, a influência da cultura afrodescendente na Amazônia, performance que usa a dança dos rituais religiosos brasileiros e até uma pesquisa de vídeo que questiona o sacrifício de animais nos ritos do Candomblé. São iniciativas que exploram a cultura brasileira como base para a apropriação tecnológica e crítica das novas ferramentas disponíveis. E vindas de todos os lugares do Brasil, não só restritas ao eixo Rio-São Paulo, tão comum de acontecer quando o assunto é a exploração tecnológica.
Vale a pena dar uma navegada pelos projetos inscritos para ter um panorama sobre iniciativas focadas na cultura de rede tanto nacionais, quanto internacionais.