Qual será o futuro da escrita?

Várias notícias recentes têm me instigado a fazer algo contra políticas públicas cada vez mais controversas. Eu, que nasci e cresci em São Paulo, tenho uma predileção por problemas urbanos, como o caso das drogas no centro da cidade, desocupação de moradias consideradas ilegais e mobilidade. Esses temas mexem bastante comigo. Só que eu tenho um problema: o que fazer quando o problema está a mais de 7 mil quilômetros de distância?

Daí, o primeiro ato que se pensa é postar meus argumentos sobre o que considero ser legal na minha página no Facebook, a rede social que agora já até passou o Orkut no Brasil no número de integrantes, pois lá posso atingir várias pessoas ao mesmo tempo sobre o meu ponto de vista. Fico, então, empenhado em postar análises, vídeos, comentários e todos os tipos de mídia e conteúdo possíveis para embasar o argumento que determinado ato é ilegal, imoral, higienista e todos os achismos possíveis e imagináveis. Na minha cabeça, estou sendo escutado pelos cerca de 750 amigos que tenho – mais uns 10 que se inscreveram à minha página. A verdade, porém, é que tudo o que eu falo deve ser lido por 5, 6 pessoas, no máximo, tudo por causa dos vários filtros automáticos que a rede social aplica nos perfis das pessoas.

Decido ir para uma outra tática, postando no twitter, outra rede que me conecta com muitas pessoas ao mesmo tempo. Da mesma forma que no Facebook, me aplico a postar análises, vídeos, comentários e todos os tipos de mídia e conteúdo possíveis, mas dessa vez em apenas 140 caracteres, incluindo os links. O trabalho é mais árduo ainda, mas, teoricamente, eu atingiria um público maior, já que tenho um pouco mais de seguidores do que na outra rede. A verdade, porém e mais uma vez, é que o que eu falo deve ser lido por 5, 6 pessoas, no máximo, tudo por causa da quantidade de informações que os outros usuários também postam. Ou seja, seu conteúdo entra na luta – e na fé – de que seja lido naquele momento por todos os seus seguidores.

Tudo isso me deixa pensando em como eu poderia atingir o maior número de pessoas sobre problemas ou reflexões gerais. Eu tenho uma facilidade maior de escrever textos, longos, confusos, que seguem a lógica do meu pensamento. Só que, principalmente por seguirem a lógica do meu pensamento, eles não são muito lidos ou compartilhados (até gosto de fazer mais experimentações ainda por aqui).

Nesse processo, lembrei de alguns livros e frases que li há uns tempos. O filósofo Pierre Levy, em seu livro “A inteligência coletiva”, sentecia que estamos em direção à “superlíngua”, ou seja, uma língua que não é apenas escrita, focada em idiomas e separadas por comunidades, mas que usa imagens para atingir um público mais vasto por meio de ferramentas representacionais (até símbolos).

Lembrei também de outro filósofo, Vilém Flusser, que escreveu um livro questionando se a escrita teria futuro. Para ele, há uma diferença grande entre o texto e a imagem, que pode ser ilustrada pelo paralelo entre as linhas (escrita) e a superfície (imagem). As linhas só seriam entendíveis seguindo uma ordem específica, pois se precisa estruturar frases e parágrafos para transmitir uma ideia. A superfície, ao contrário, pode ser interpretada em qualquer ordem, de qualquer maneira, apenas olhando para a imagem. E, outra, a superfície poderia ter diversas mensagens em uma única imagem, e não apenas exatamente como as palavras dizem. É essa “facilidade” que colocaria em risco a escrita como forma de comunicação oficial.

Então, por que não experimentar o vídeo mais a fundo, como uma linguagem para se passar uma determinada mensagem? Foi a partir daí que comecei a fazer experimentos com câmeras amadoras de gravação para ver até que ponto produzir um vídeo seria tão ou mais trabalhoso do que um texto.

A primeira experimentação foi para dar atenção à espera nas grandes cidades. É uma mensagem simples, sem muitos questionamentos (por enquanto), e que faz parte de uma série.

E a segunda foi trazer o questionamento para dentro de casa.

Depois dessas duas experiências, percebi ainda que nem precisaria me preocupar com a captação (que pode envolver custos e disponibilidade para sair e gravar as imagens). Na verdade, eu poderia reaproveitar o material que já estava online e circulando por aí para representar as questões que me surgiam. Afinal, como diria Lavoisier, “na natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. Então, vamos remixar!

O vídeo em homenagem ao aniversário de São Paulo, no fim, pareceu uma ferramenta muito mais eficaz para passar essa mensagem do que se eu tivesse escrito um texto. A aceptividade ao conteúdo foi muito maior (só nos dois primeiros dias, foram mais de 2.300 visualizações). E o processo é tão interessante quanto escolher a próxima palavra para compor a frase.

Será que as imagens poderão substituir o texto?

A imagem é um retrato de Glauber Rocha, para quem só bastava “uma câmera na mão e uma ideia na cabeça”.

3 Comments

A julgar pelo tamanho do rombo educacional em nosso país, o futuro da escrita corre perigo. E, além do mais, só se fala em convergência, então é mais provável que os escritores se apóiem nas imagens, vídeos, músicas, e até mesmo interatividade para contar suas histórias e ficções. Como nova proposta para a escrita tem-se o suporte digital, o eBook. E temos feito boas experimentações com isto. Se quiser conhecer, tem alguma coisa nesse segmento: http://www.letrascriativas.com.br

Tudo é válido quando a intenção é a boa informação e o aprendizado! Como psicopedagoga vejo muitas possibilidades nas imagens,pensando,por exemplo em crianças disléxicas e com dificuldades de aprendizagem.
O ser humano sempre foi multissensorial!
Haja visto o sucesso do Salman Kan e suas aulas em vídeo,um grande sucesso do youtube!
Amei o seu texto!

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