Não imprimir é realmente sustentável?


Muitas consultorias ambientais têm aconselhado seus clientes a não imprimirem ou emitirem qualquer material gráfico como forma de preservar o meio ambiente. Em vez disso, elas aconselham a mandar arquivos digitais, como e-mails makerting ou mesmo construir sites inteiros, para passar a informação necessária. É um proposta interessante, mas será que ela é tão sustentável assim?

Eu escrevi há três anos sobre isso no blog do Planeta Sustentável no site da Super, mas acho que está na hora de relembrar o assunto. Embora você não esteja cortando árvores, produzindo químicos para alvejar as folhas ou usando resíduos tóxicos como tinta, o meio digital também é poluidor e agride o meio ambiente. Vamos dividir por partes.

O primeiro argumento a se pensar é que para ler esse e-mail ou site é necessário um meio, ou seja, uma interface entre você e o conteúdo. Você, então, necessariamente, precisa de uma máquina, algo que te mostre o que seu interlocutor quer que você entenda. É um aparelho que tem vários custos embutidos e que gerará um lixo que ainda é muito preocupante na sociedade: o lixo eletrônico. O que parecia simples e sem consumo direto do meio ambiente já não é mais tão inocente. O computador também é um material que consome e precisa ser pensado duas vezes antes de usar.

A facilidade de publicação na internet também é um fator um pouco contraditório. Se com o material físico pode ser mais simples entender a ideia do consumo direto, com o digital é um pouco mais abstrato compreender que as páginas inúteis online também consomem. Várias vezes já me peguei não escrevendo algo em uma folha por achar que não valia a pena gastar uma folha com aquilo. Com a internet, porém, essa sensação é mais complicada. É bem raro encontrar alguém que se sinta culpado de postar vídeos ou textos com utilidade um pouco duvidosa.

Mas como isso gera um problema ao meio ambiente? Todas as informações disponíveis online ficam hospedadas em um servidor, que é um computador bem grande e com uma capacidade gigantesca que fica ligado 24h por dia. Quanto mais informações na rede nós colocamos, mais servidores precisam ser comprados e alocados para isso. E a conta é simples: quanto mais computadores ligados, maior o consumo de energia.

Como eu falei no blog do Planeta Sustentável, o pessoal do TreeHugger fez algumas contas (hoje um pouco desatualizadas, mas que ainda valem como demonstrativo) para entender quanto o armazenamento de arquivos pode consumir de matéria-prima das usinas de energia. Uma pesquisa realizada em 2003 aponta que é necessário 0,45kg de carvão anualmente para hospedar algo entorno de 15 mb. Umas contas rápidas deixam a situação mais clara: se você usou todos os 6 gigas da sua conta de e-mail, você gasta o equivalente a 180 kg de carvão por ano. Só com o seu e-mail!

Daí, um outro viés que entra é quanto disso você realmente precisa guardar? Como a capacidade de armazenamento dos computadores têm se expandido, criamos o hábito de guardar tudo, sendo que sabemos que não usaremos aquele spam, aquela propaganda, ou aquele e-mail inconveniente nunca mais em nossas vidas. A lixeira permanece cheia e o filtro de spam sem nunca antes ser apagado. Está na hora de repersarmos como usamos a internet e o real benefício desses gastos.

Use a rede com sabedoria! 😛

Foto: sciascia/Creative Commons

4 Comments

Ricardo Silva – diz:No meu entendimento a última frase do post é perfeita, porém não concordo plenamente com todas as idéias. Primeiro porque a sugestão de utilizar arquivamento digital no lugar de impresso só condiciona servidores ligados 24 horas por dia quando é necessário consultas 24 horas por dia, o que não é aplicado a todas organizações. Segundo porque o post sugere uma contabilização de custos ambientais do uso de tecnologia mas não faz o mesmo para o custo em papel, tinta e também eletricidade gasta para o arquivamento impresso.

Vinícius – diz:Realmente também não concordo com tudo. Em algumas partes com o uso consciente de tecnologia, porém servidores ligados 24 horas também geram custos e também causam um certo impacto ambiental, que nesse caso temos crises de energia.Por isso sou a favor do uso consciente, ou seja, melhorias de processos para gerar menos papel e usar mais nosso dia-a-dia para a intercomunicação.

Tais – diz:Não me convenceu.Na questão de gerar lixo eletronico, tenho meu computador em casa e já gero lixo eletronico, independente de como as empresas divulgam seus materiais.E na propaganda impressa, cada folheto atinge uma pessoa, sendo que um site pode ser visto por milhares de pessoas.Importante mesmo é usar a rede com sabedoria, pensando que todos os nossos atos tem impactos ambientais.

Eduardo Baldan – diz:O título do post deveria ser “A insustentabilidade do lixo digital”.Creio que o paralelo com a impressão, com o papel, ficou perdido.No entanto, levantou uma ótima bandeira, se cria muito lixo na web e se pensa que isso está lá hospedado em um ambiente “mágico”, que não requerer recurso algum.Que utilizemos a rede com sabedoria!

Deixe um comentário para Anônimo Cancelar resposta