Câmeras por todos os lados


E se estivéssemos sob constante vigilância, 24 horas por dia, todos os dias da semana, sem descanso ou lugar para nos abrigar? E se o único lugar para fugir fosse o nosso lar, apenas? Em que as ruas, lojas, carros, escritórios, enfim, todos os outros lugares considerados públicos tivessem microcâmeras escondidas em postes de luz, lâmpadas, botões e todo e qualquer lugar possível? Um mundo em constante vigilância.

George Orwell já imaginou parte disso no clássico “1984” (por favor, ignorem a existência do filme. O livro dá de milhões a zero), e Aldous Huxley já tinha mostrado sua versão de um futuro sob controle com seu “Admirável mundo novo”.

Recentemente (embora bastante atrasado), descobri o texto de David Brin “The Transparent Society” (A sociedade transparente, em tradução livre), publicado em dezembro de 1996, que virou um livro sobre a falta de privacidade em um mundo cada vez mais vigiado por câmeras.

No artigo, Brin traça dois mundos que têm em comum a ubiquidade das câmeras: o primeiro em que todos os movimentos são captados e reportados para as autoridades de segurança, como a polícia; e o segundo em que quem possue o controle são os próprios cidadãos, olhando uns aos outros.

Os cenários, embora muito parecidos pela falta de privacidade, são completamente díspares em qualidade de vida. Na Cidade do Controle, os cidadãos são acossados pela falta de liberdade. Na Cidade da Confiança, todos respeitam os limites e a vigilância é apenas usada para fins simplórios, como ver se a namorada ainda está esperando em frente ao cinema.

(Parênteses para ressaltar que o artigo é de 1996, mesma época em que se viu a popularização das câmeras de vigilância em cidades como Londres, na Inglaterra, com seus circuitos fechados de televisão)

O artigo, a meu ver, não tem muitas informações interessantes além das que já foram levantadas por tantos outros autores (como demonstram Orwell e Huxley). O que chamou a minha atenção para os cenários de Brin foram 1) o custo que o sentimento de segurança nos traz (e que, na maioria das vezes, cai para a falta de privacidade), 2) a crença de que a colaboração é sempre fantástica (o que prediz que todos acreditam no mesmo ideal) e 3) a ideia fixa entre alguns autores de que, realmente, por causa da expansão das tecnologias, o futuro será vigiado.

Será que, ainda, não se dá para prever uma outra via?

Imagem tirada por rpongsaj

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